sábado, 22 de maio de 2010

Hidrovia Paraguai-Paraná

ALFREDO DA MOTA MENEZES

O presidente da Asprosoja acusou Pedro Taques de ter atuado contra a hidrovia Paraguai-Paraná. Acho que já posso trazer para este espaço um trecho da conversa que tive com o Pedro antes dele deixar o Ministério Público.

Dizia que assuntos como esse seriam trazidos de volta pela classe dos produtores rurais. Que ela gostaria de saber como seria a atuação dele na questão da logística de transporte. Até mesmo a prisão de madeireiros, apesar dele já estar em São Paulo, seria também atribuída a ele. Começou a acontecer.

Mas a intenção deste artigo e do próximo é outra. Matamos antes a hidrovia Paraguai-Paraná, o momento agora é de retomar esse assunto. E para valer.

Essa hidrovia, partindo de Cáceres, no rio Paraguai, passa no Mato Grosso do Sul, Bolívia, abaixo do Paraguai recebe o rio Paraná. Corta grande parte da Argentina, toca no Uruguai e sai no Atlântico. Gente de Cuiabá no passado tomava um barco aqui no porto e pela hidrovia chegava ao Rio de Janeiro.

Essa hidrovia passa em todos os países do Mercosul. Seria algo especial para o comércio de MT com essa integração econômica.

A hidrovia hoje, partindo de Cáceres, transporta algo como 300 mil toneladas por ano. O fato que gerou uma briga feroz foi pela construção de outro porto para aumentar a carga transportada por ela. O lugar escolhido foi Morrinhos, uns 140 km abaixo da cidade de Cáceres.

Foi contratado o escritório de engenharia de Renato Pavam, de São Paulo, para coordenar os serviços que seriam feitos ali. Lembro da maquete do novo porto. A mata na margem do rio ficaria intacta. Uma esteira, numa distância de cem metros, levaria os grãos até as barcaças.

Havia dinheiro para a construção do porto. Um grupo norte-americano se encarregaria disso. Era o maior grupo de navegação fluvial do mundo, que tinha também companhia de navegação na Argentina.

Dante de Oliveira, governador à época, teve encontro com o presidente internacional dessa companhia em Buenos Aires. Acho que já se pode resgatar esse assunto, estive presente, ficou tudo acertado, recurso garantido.

A hidrovia propunha ser a mais cuidadosa possível com as coisas do Pantanal. As barcaças seriam adaptadas ao rio. Teriam até casco duplo. Em caso de afundar o contêiner não abriria, poderia ser resgatado por inteiro.

Falava-se até que o barulho do motor seria adequado à região. As barcaças não bateriam em margens, viajariam entre bóias virtuais. A navegação seria feita com auxilio de satélites. Se poderia viajar até à noite.

O Ibama autorizava (e ainda autoriza) a dragagem no rio. Eram feitas mais de dez até Cáceres. Com o porto em Morrinhos cairia para somente uma, porque todas as outras ficam no trecho sinuoso onde está a maioria das pousadas da região. Era uma enorme vantagem ambiental e para o turismo. Nada disso interessou aos contrários à hidrovia.

Alegava-se sempre uma inverdade, mas que pegou junto à opinião pública, aqui e de fora. Que seriam cortados meandros e aprofundado o leito do rio Paraguai. Uma insanidade se ocorresse. Uma mentira reiteradamente dita conseguiu convencer muita gente que se faria uma maluquice daquela.

O próximo artigo é sobre o embate entre desenvolvimentistas e preservacionistas, com a forte atuação da Justiça Federal.

ALFREDO DA MOTA MENEZES é articulista político em Mato Grosso.
pox@terra.com.br
www.alfredomenezes.com