segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A dragagem afeta a praia

30/08/2010

A dragagem afeta a praia "

A dragagem do porto pode ampliar a intensidade das ressacas? Desde meados do mês, quando marés fortes cobriram com areia os canais 1, 2 e 3, e retiraram material da Ponta da Praia, em Santos, a questão frequenta os meios de comunicação. Na praia do Goes, em Guarujá, também houve deposição de sedimentos. As duas prefeituras preocupam-se, mas o porto descarta conexão entre ressacas e dragagem. Concordam todos que analisar o problema é preciso.
Os especialistas não acreditam que haja uma relação de causa e efeito entre dragagem e ação da maré. Nada que possa ser mensurado por enquanto. Esse tipo de reflexo, quando existe, demora a aparecer, não há reflexos tão rápidos.
Gilberto Berzin, coordenador do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas da Universidade Santa Cecília, lembra que o problema de remoção de areia na Ponta da Praia é antigo e que as ressacas ocorrem normalmente entre março e agosto. A maior velocidade da corrente marítima, para ele, pode explicar a aceleração da erosão que se tem impressão que vem ocorrendo. “Nisso, eventualmente, a dragagem pode até estar colaborando, mas não há como ter certeza.”
A geóloga Célia Regina de Gouveia Souza, doutora em conformação litorânea e responsável pelo acompanhamento do trabalho da dragagem, explica que é preciso tempo para que se processe algum impacto da dragagem.
Desde o ano passado ela acompanha 23 pontos na orla de Santos, outros seis em São Vicente e cinco em Guarujá, por meio de contrato entre a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e o Instituto de Geologia de São Paulo (IGSP), para o monitoramento dos efeitos da dragagem, estudo que prosseguirá por 18 meses após a conclusão prevista para janeiro próximo.
Os dois pesquisadores informam que, no caso da Ponta da Praia, existe um problema de décadas, e que a faixa de areia corre o risco de desaparecer. Gilberto considera necessário o porto ter um mareógrafo, para medir as variações do mar diretamente e que somente estudos específicos indicariam as ações que precisam ser adotadas e os locais. Célia Regina explica que o próprio estudo de acompanhamento pode ser um valioso subsídio para ações de correção.
O reparo de problemas desse tipo é feito com aterramento (reposição da areia), ou com pedras (enrocamento) ou com a instalação de molhes (barreiras).
Os secretários do Meio Ambiente de Santos e Guarujá, Fábio Alexandre Nunes e Élio Lopes, reuniram-se com a Codesp durante a semana, para examinar a questão. A empresa que administra o porto não descarta a realização de mais estudos, e desde já vai encaminhar os relatórios semestrais e mensais da dragagem às secretarias municipais.
O diretor de Infraestrutura, Paulino Vicente, recusa qualquer relação entre ressaca e dragagem. Ele tem repetido que os relatórios dos últimos seis meses não mostram qualquer dano. E outras operações semelhantes foram feitas no passado, sem problemas. Atualmente a Codesp desenvolve 25 estudos embientais relativos à dragagem, entre os quais o que é desenvolvido pelo IGSP.

Santos Express